UMA EXPERIÊNCIA COMO SCOUT DA NBA PELO DETROIT PISTONS

pistons
Fig.1 - Marca do Detroit Pistons - NBA


Ter acompanhado incontáveis jogos e campeonatos nacionais e internacionais, representando os Pistons aqui na América Latina me encheu de orgulho.
Avaliar potenciais jogadores de alto nível quando ainda são somente promessas não é tarefa fácil. Ajudá-los a conquistar seu lugar na maior liga de basquete mundial depende de muito investimento e pessoas certas na hora certa.
O mapeamento das forças e fraquezas dos atletas a serem observados é fundamental para uma análise crítica e técnica de suas competências física, intelectual, técnica e tática.
Seguem algumas qualidades individuais que demonstram a amplitude e profundidade do jogo de basquete, influenciando no caráter de qualquer atleta de alto nível neste esporte, as quais são analisadas por scouts profissionais.

CLUTCH - capacidade de receber e manter a posse de bola, mesmo sob ataque.
BALL HANDLING - controle de bola.
CREATES SHOT - capacidade de criar oportunidade de arremesso.
PASSING - repertório de passes.
POST MOVES - movimentos ou giros de pivô.
DRIBBLE PENETRATION - capacidade de penetrar a defesa adversária.
3 POINTS SHOOTING - aproveitamento no arremesso de 3 pontos.
FREE THROW - aproveitamento no lance livre.
MISTAKES - Quantidade de perdas da posse de bola por partida.
OFF REBOUNDING - capacidade de conquistar rebotes ofensivos.
POST DEFENSE - capacidade de defender o pivô adversário.
FOOTWORK - rapidez e precisão no trabalho de pernas e pés.
COMMUNICATION - capacidade de comunicação eficiente no jogo.
ANTICIPATION - capacidade de antecipação na defesa, desestabilizando ou gerando erro do adversário.
DECISION MAKING - capacidade de decisão rápida e eficiente para a equipe.
TOUGHNESS - agressividade tanto na defesa quanto no ataque.
BASKETBALL IQ - Inteligência ou compreensão do jogo, no momento certo da partida.
CONTACT/PHYSICAL STYLE - facilidade em lidar com o contato físico ou agressividade do adversário, seja na defesa ou no ataque.
LEADERSHIP - capacidade de liderar positivamente a equipe, nos momentos difíceis do jogo, na defesa e no ataque.
DUNK - capacidade de enterrar, mesmo marcado.
BODY CONTROL - Controle e coordenação corporal, sempre mantendo o equilíbrio.
BALL PRESSURE - Capacidade de pressionar a bola sem ser batido com facilidade pelo adversário.
DEF REBOUNDING - Habilidade em fechar a defesa, bloquear o adversário e se posicionar para rebotes defensivos eficientes.
SHOT BLOCKING - capacidade e técnica para bloqueios de arremessos e bandejas sem falta.
MOBILITY - mobilidade defensiva e ofensiva eficientes, com bola e sem bola.
FOUL PRONE - tendência a cometer faltas durante o jogo.
POSITION VERSATILITY - versatilidade de posições defensivas e/ou ofensivas, possibilitando maior liberdade ao treinador, de acordo com as necessidades do jogo.
WINGSPAN - envergadura ou amplitude da área onde suas mãos podem tocar, seja para os lados ou para o alto, sendo uma qualidade mais importante do que altura em si.
EXPLOSIVENESS - capacidade de explosão e paradas, variando a velocidade do jogo e dos movimentos e dificultando a antecipação do adversário.
ATHLETICISM - potência física capaz de amplificar a força e a velocidade dos movimentos do corpo.
EFFORT/ENERGY - Capacidade de entrega total, de corpo, mente e espírito, ao longo do jogo.
PHYSICAL STRENGTH - capacidade óssea e muscular para responder positivamente ao contato físico do jogo.
TEAM ORIENTED - capacidade de pensar antes no "nós", equipe, do que no eu.

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Fig.2 - Com Lou Richie e Tony Freccero

A passagem por Detroit foi fantástica. Conhecer pessoalmente o Joe Dumars, o Palace de Auburn Hills, aquele timaço treinar e jogar, assistir à final do basquete da NCAA, enfim, tudo foi perfeito.


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Fig.3 - Tony Ronzone, scout internacional dos Pistons


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Fig.4 - Joe Dumars, presidente do Detroit Pistons


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Fig.5 - Jonh Hammond, vice presidente dos Pistons em 2007


Naquela oportunidade presenciei um fato interessante para um brasileiro acostumado a ver nossas arenas apagadas a maior parte dos dias do ano. Os Pistons conseguiram ir aos Playoffs da temporada. Contudo, por impossibilidade de previsão das datas futuras dos jogos, o Palace já estava completamente vendido para outros eventos e não haveria mais datas disponíveis para os jogos do time em casa. John pegou o telefone e perguntou ao diretor de eventos do Palace: "Quem é mais importante, o Palace ou o Time?" Depois disso, os jogos em Detroit foram marcados e ocorreram sempre com casa lotada.
A administração profissional de uma arena multiuso faz dela uma empresa extremamente rentável, a tal ponto de não haver, mesmo que momentaneamente, data disponível nem mesmo para seu evento principal.

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Fig.6 - Palace de Auburn Hills


Como curiosidade, a equipe do Detroit Pistons foi a primeira da NBA a adquirir um avião para o transporte de seus jogadores. Mr. Bill Davidson, fundador e dono da franquia de Detroit, foi um pioneiro em muitos aspectos e pode-se dizer que a NBA é hoje a potência que é graças às suas inovações.


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Fig.7 - Bill Davidson campeão em 2004


Veio o intervalo do jogo, num domingo pela manhã, na casa do Detroit Pistons, o Palace, e o Miami Heat, então campeão da NBA da temporada anterior, já parecia garantir mais uma vitória para a coleção de Pat Riley, seu treinador.

A preocupação da defesa dos Pistons com Shaquille O'Neal no garrafão acabou proporcionando uma liberdade exagerada ao armador do Miami, Jason Williams, que praticamente acabou com o jogo nos dois primeiros quartos.

Estávamos assistindo à partida na nossa suíte, que possui as cadeiras externas, ligeiramente separadas das arquibancadas, e um salão interno, com restaurante, bar, sala de reunião, etc.

São duas fileiras de cadeiras, sendo que na de cima ficavam o presidente, JoeD, e o vice-presidente, John Hammond. Nas cadeiras de baixo, estávamos eu e os demais.

Ao entrarmos para a suíte no início do intervalo, dirigi-me ao vice-presidente e sugeri: "Temos que negar a bola ao armador desde a quadra de defesa deles". Neste momento, JoeD já estava no vestiário, participando da conversa do treinador, Flip Saunders, com os jogadores.

No reinício da partida, no 3º quarto, comecei a ver uma nova equipe em quadra. O Detroit Pistons mudara radicalmente sua maneira de defender, utilizando Rip Hamilton como um marcador implacável contra Jason Williams. 

Neste momento, Tony Ronzone, Scout internacional e assistente técnico dos Pistons, sentado ao meu lado, bate na minha mão direita e diz: "Você lembra daquilo que falou com o John Hammond no intervalo? Pois bem! Logo em seguida, ele ligou para o JoeD no vestiário e passou a mensagem. Automaticamente, JoeD conversou com o Flip Saunders".

Daquele momento em diante, a emoção tomou conta de todo o Palace, lotado com mais de 22mil pessoas, a ponto dos jogadores terem dificuldade de ouvir o apito do árbitro.

Rip Hamilton fez um trabalho perfeito e o mérito da vitória não poderia ser de outra pessoa senão ele. Nunca me esquecerei de ter contribuído de alguma forma numa vitória tão importante, numa temporada em que poderíamos ter chegado a mais um título.

Uma das experiências mais marcantes da minha vida profissional foi ter servido ao Detroit Pistons, como Latin America Scout, por mais de três anos.

Waldir Boccardo
Fig.8 - Waldir Boccardo


Meu muito obrigado a todos com os quais aprendi e, em especial, ao saudoso professor e amigo Waldir Boccardo. Foi ele quem venceu aquele jogo da NBA, pois me lembrei naquele momento de sua vitória com a estreante equipe do Uberlândia contra o Flamengo em 1999, no campeonato nacional, quando ele e Ary Vidal fizeram o melhor marcador do Uberlândia negar a bola ao armador do Flamengo.

Quem tiver curiosidade de ler mais sobre este jogo da NBA, acesse o link abaixo:
ESPN